sábado, 23 de abril de 2011

Os Momentos de Transição do Planeta Terra e a Paz - Divaldo Franco

Espiritismo Responde – Os Espíritos Nobres têm falado sobre momentos de transição que a Terra está passando. O que caracteriza esses momentos?

Divaldo Pereira Franco – São as convulsões sociais que se derivam dos distúrbios morais. Nesses distúrbios morais-sociais nós geramos uma psicosfera doentia. Fala-se de que a ecologia está alterada, a nossa atmosfera está carregada de gases destrutivos, de que estamos vivendo momentos em que a água vai entrar em escassez, porque apenas 2% da água do mundo são potáveis.. Fala-se tudo isso, e mais das tsunames, das erupções vulcânicas... Tudo isso faz parte de um grande conjunto que constitui a transição.


Realmente, a nossa mente transformada em instrumento de prazer, de violência gera também convulsões geológicas. A mudança e a sustentação das placas tectônicas que produzem esses tremendos maremotos, essas tsunames podem também ser provocadas pelos distúrbios mentais dos habitantes do planeta.

A Terra tem que se transformar do ponto de vista geológico para albergar Espíritos mais elevados. Há uma evolução correspondente do planeta, ao mesmo tempo que ocorre a sociológica, moral, produzindo outras variantes. Se reflexionarmos em torno da sociedade como um todo, vemo-la terrivelmente fragmentada.

Observemos, por exemplo, as religiões. As doutrinas religiosas, ao invés de marcharem para a união, avançam para a competição, odeiam-se reciprocamente, em nome de Deus que é todo amor. É um paradoxo!

A política é cada dia mais arbitrária. A sede de dominação e de totalitarismo continua no Mundo de hoje, como no tempo mais recuado da nossa vida na antigüidade oriental. As propostas de natureza sociológica não saem do papel, quase nunca são aplicadas.

A violência urbana toma conta do mundo. Por que? Porque o indivíduo é violento. Então, a cura, a terapêutica, será, infelizmente essa grande mudança que se está dando mediante a dor, impondo-nos a transformação espiritual através da nossa modificação interior.

Muitos dizem: “Nós necessitamos de leis justas”. A maioria das leis é elaborada dentro dos códigos da justiça, mas essas leis feitas e aplicadas a pessoas violentas e viciosas, favorecem a impunidade, a eleição do poderoso em detrimento daquele que é fraco. É necessário trabalhar-se o indivíduo, como disse Allan Kardec, sendo hoje melhor do que ontem, amanhã melhor do que hoje e lutando sempre contra as suas más inclinações.

ER – Apesar dos momentos difíceis que a Humanidade está vivenciando, vemos um número muito grande de pessoas indiferentes ao que está acontecendo, sem religiosidade, sem solidariedade, simplesmente deixando a vida passar. Quais são as conseqüências dessa passividade? O que será capaz de despertá-las?

Divaldo
– A dor é o clarim que nos desperta a todos. No estudo da psicologia, nos vários níveis da evolução da consciência, a primeira fase é a chamada de consciência de sono. A pessoa é apática emocionalmente. Pode possuir muita inteligência, muito conhecimento, mas é indiferente ao que acontece com os outros. É uma consciência adormecida, egóica, somente se interessando pelo que é seu, enquanto que os outros não têm nenhum sentido no conjunto social.

Esta é uma fase da evolução, porque logo depois passa-se à consciência desperta. Mas, isso ocorre através do sofrimento. Esse indivíduo sempre pensa que a morte, a miséria, o câncer apenas atacam o vizinho. Mas, como o vizinho pensa a mesma coisa, vai chegar a vez dele ser atacado, aí então ele desperta e exclama: “Por que Deus fez isso comigo? Por que eu?”

É comum sempre perguntar-se: “Mas, por que comigo?” A pergunta deveria ser: “Por que não comigo?” Porque todos somos iguais. Todos experimentamos as mesmas vicissitudes. Por que uns sim e outros não? Então essas pessoas apáticas, indiferentes, serão sacudidas como estamos sendo todos, pelos sofrimentos: a depressão, o distúrbio do pânico, as inquietações, o vazio existencial, os cânceres e tantas outras enfermidades.

Mantendo-se essa indiferença, a mesma revela um transtorno patológico. O indivíduo já não tem sensibilidade, o que é uma das primeiras características da depressão, graças à falta de serotonina e de noradrenalina. A pessoa que está indiferente, não tem afeto pelos seres antes mais amados... Essa depressão hoje é de natureza pandêmica.

ER – Numa atitude muito feliz, você lançou a campanha “Você e a Paz”. Como está essa campanha? Já é possível identificar os resultados?

Divaldo – Sim, e quase que de imediato No ano atrasado, tivemos uma emoção incomum, porque conseguimos arrastar à praça pública mais de 20.000 pessoas. Às vésperas do Natal, às 18 h. de um dia de semana, com todo o comércio trabalhando. Isto tem um sentido muito elevado. Quando terminamos o ato público, o Comandante da Polícia Militar da Bahia chamou-me para uma campanha que ele estava iniciando. Qual era a campanha? Ele colocou um pequeno adesivo em todos os veículos da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros com a seguinte inscrição – “Este é o Ano da Paz.”

São mais de 30.000 militares que em todos os veículos conduzem o adesivo da Campanha, do Movimento Você e a Paz. Achei isso incomparável, porque, normalmente, a polícia é repressiva. Com essa atitude do sr. Comandante, estamos avançando para criar uma polícia educativa, arrancando as raízes do mal, e não somente combatendo-lhe as conseqüências.

Tivemos ocasião de dialogar com um grande traficante de drogas, de um dos bairros mais perigosos de Salvador, que abandonou o hediondo trabalho depois de ouvir-nos. Ele foi ouvir-me em uma escola, no seu bairro, posteriormente na praça pública e comoveu-se. Quando eu desci do palanque, ele me perguntou chorando: “E agora, o que eu faço da minha vida?”

Respondi-lhe: “Vai trabalhar como qualquer cidadão.” E quanto vou ganhar?” Eu respondi-lhe: “Um salário mínimo, porque você não sabe fazer quase nada.” Ele riu, e respondeu-me : “Mas, isso eu ganho em alguns minutos.” Redargui-lhe: “Com a morte da alma de muita gente, para muitos anos, não é verdade? Somente que você não tem esse direito. Deus não lhe criou para ser um criminoso de almas, porque o assassino comum mata o corpo, mas o vendedor de drogas mata a alma, sendo um terrível covarde que fica escondido, destruindo vidas, não sendo usuário, o que é ainda mais perverso.”

Consegui-lhe o primeiro trabalho. Atualmente, está numa atividade remunerada, é um cidadão e está tentando arrancar do ofício nefasto outros traficantes, seus conhecidos. Porém, o mais fascinante é que nós lançamos o Movimento “Você e a Paz” em Paris, no ano passado, em maio. Lançamo-lo, também, em Portugal, em Coimbra, igualmente no ano passado, e iremos apresentá-lo também em outros países. Aqui, no Brasil, já temos uma grande quantidade de cidades que o estão realizando. Lamentavelmente, o tempo de que disponho não me permite estar em todos, mas já o temos no Paraná, em Santa Catarina, e vamos seguindo muito bem.

ER – Jesus orientou para se viver no mundo, sem ser do mundo. Podemos identificar nessa orientação um convite para se viver em paz, apesar da violência que cerca o homem?

Divaldo – Isto é o que Gandhi nos ensinava, seguindo o exemplo de Jesus. Ele teve ocasião de dizer que lamentava muito os cristãos. Porque os cristãos têm uma Bíblia de 400 páginas, que lêem, meditam e não lhes adianta muito. Ele leu apenas o Sermão da Montanha, as doze linhas de São Mateus e mudou a sua vida. Concluiu afirmando: “Eu amo a Cristo, mas tenho muito medo dos cristãos, porque não respeitam o Cristo”. Como conseqüência, ele elegeu a não violência, porque a não violência proporciona paz. A pessoa não violenta é pacífica, é pacifista e é pacificadora, porque no seu íntimo tem segurança.

Certa feita, um dos Secretários de Segurança Pública do Estado da Bahia levou-me a um presídio da cidade para que eu realizasse uma palestra. Colocou todos os criminosos em uma área amuralhada e assistidos por policiais armados de metralhadora. Então, eu lhe disse: “Secretário, como eu vou falar de paz e de amor com essas metralhadoras?” Ele retrucou: “Divaldo, isto é para nossa segurança, porque é um risco aqui estarmos. Temos que cuidar da nossa vida, pois que, do contrário, poderemos ficar aqui seqüestrados.”

Respondi-lhe sorrindo: “Então o sr. sai e eu fico. Se eu irei falar sobre a paz, tenho que acreditar nela. Se eu prego o amor, tenho que confiar nele. É claro que eu não quero ficar aqui no Natal, seqüestrado. Mas tenho que provar aos que irão ouvir-me, que não tenho medo deles ou daquilo que os torna infelizes, graças à tranqüilidade que devo possuir.”

Ele obtemperou: “Nós não podemos tirar a polícia”. Ao que eu sugeri: “Mas, pelo menos, pode manter uma vigilância mais discreta”. Ele me atendeu e eu comecei dizendo para os 200 encarcerados: “Vocês não estão aqui obrigados. Fiquem se quiserem. Mas, antes de resolver se ficam ou se saem, dêem-me dois minutos, exatamente dois minutos.” E contei-lhes uma história de humor. Eles riram muito. A partir daí, expliquei-lhes: “Agora, irei falar-lhes sobre algo mais sério, que merece reflexão.”

Fiquei muito tempo conversando com eles. Alguns começaram a ler as obras espíritas, e criamos um núcleo dentro da Casa de Detenção. É necessário que a nossa paz resista à perturbação de fora, porque senão é uma paz ilusória. Jesus disse: “Eu vos dou a minha paz. Não como o mundo a dá, mas como somente eu a posso dar.” Qual é a paz do Cristo? Sócrates afirmava: “A consciência tranqüila, a palavra reta e os atos corretos.” Quando estamos em paz mentalmente, não temos vergonha do passado, não temos medo de acusações, podendo enfrentar as pessoas com tranqüilidade, o que demonstra nossa paz. Pensemos, então retamente, falemos de maneira correta e ajamos de forma saudável.

ER – Muitas são as pessoas que já têm consciência da necessidade de conquistar virtudes. Reconhecem as suas ações equivocadas e a necessidade de mudanças para conquistar a felicidade, mas não conseguem mudar. O que você diria a essas pessoas que estão no propósito de mudar e não conseguem?

Divaldo - Que insistam nos bons propósitos. Tudo são hábitos.Um grande pedagogo disse: “Educar é criar hábitos saudáveis.” Quem não tem bons, tem maus hábitos. Como estamos com hábitos arraigados, que chamamos viciosos ou negativos, para instalarmos hábitos novos, deveremos repeti-los até que se fixem. Se insistirmos nos bons hábitos, mesmo que caindo para levantar, como diz o Evangelho, se tentarmos sempre criamos uma nova adaptação, em breve, agiremos corretamente sem nos darmos conta.

Como é que educamos a criança a falar corretamente? Ela diz a palavra equivocada e corrigimo-la com a palavra certa. A criança sorri. Repete errado. Voltamos a dizer certo. Automaticamente, se lhe inscreve na mente o termo e, mais tarde, passa a falar corretamente. Nos atos morais assim também ocorre. Allan Kardec, quando consultou os Espíritos, conforme a questão 919, de O Livro dos Espíritos, perguntou-lhes: Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir a atração do mal? E a resposta foi profunda: “Um sábio da antiguidade já vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo”.

Fazer a viagem para dentro, para o íntimo, examinar os próprios limites, ser humilde perante si mesmo, autoperdoar-se, constituem o caminho do autoconhecimento. Todos temos o direito de errar, mas não o de permanecer no erro. Temos que nos levantar. Cair é um fenômeno natural. Todos caem. Ficar deitado, porém, é um fenômeno de acomodação.

Então, digamos aos corações amigos que pretendem mudanças, que essas somente se dão pela repetição, pelo exercício, sem desânimo, até o último instante.

Entrevista de Divaldo Pereira Franco ao Programa Televisivo O Espiritismo Responde, da União Regional Espírita – 7ª Região, Maringá, em 21.03.2007.

Nenhum comentário:

Postar um comentário